Ela e o tango Ela estava mais uma vez sentada em frente ao espelho de sua penteadeira, tentando ver a melhor forma de prender o cabelo que se recusava a ficar jeitoso como ela queria. Fez a mesma maquiagem de sempre, um batom vinho nos lábios e um delineador bem passado nos olhos davam-lhe a impressão de que era outra mulher. Talvez uma mulher melhor. Talvez mais mulher. E o perfume era adocicado, apenas sugerindo uma aproximação. Seu jeito de ser era doce, porém com necessidades fortes, cores vibrantes. Por isso colocou aquele vestido vermelho, que apesar da cor, era discreto. Queria aparecer sem fazer alarde. Calçou seus melhores sapatos argentinos, pretos de camurça, que lhe contornavam os pés, assim como o delineador fazia com seus olhos. Isso lhe fazia lembrar que no tango os pés têm tanta expressão quanto os olhos. Certa vez, em Buenos Aires, uma antiga professora lhe havia chamado a atenção numa milonga para o fato de como as pessoas que ali estavam exibiam seus pés com certo or...